quarta-feira, 15 de julho de 2009

Eles e o Amor

Janete só conheceu a palavra amor através dos namorados via internet que nunca conheceu pessoalmente. Todos eles disseram “eu te amo” e era o que bastava para ela tirar a roupa em frente a webcam. Nas semanas seguintes, seus amores virtuais alegavam excesso de trabalho, excesso de problemas. MSN e Skype offline em tempo integral.

Já Carlos amava tudo de Julia e dizia para quem quisesse ouvir. Amava o jeito dela pentear os cabelos, o perfume, as roupas, as risadas que mais pareciam soluços, o cheiro do umbigo. Ele amava sua sensibilidade, suas limitações, seu apego excessivo pelo irmão mais novo, suas pernas mal depiladas. Carlos amava tudo de Julia. Mas ele nunca disse que a amava.


Pedro está pleno de amor. Ele é padre e encontrou na religião e nos seus seguidores tudo aquilo que normalmente procuramos no outro. Hoje, homem adulto que é, ele ama e serve a Cristo. Ontem, jovem garoto que era, ele amou e serviu a Jesus, seu primo mais velho.


Narcisa se basta. Tudo em sua vida gira em torno do amor próprio. Depois dela, só vêm os oitos gatos machos com quem divide o sobradinho da década de 1940 que herdou dos pais. Nas noites em que as crenças em si mesma estão abaladas, ela compra um pote de sorvete napolitano e pede uma pizza portuguesa, sua favorita. Devora tudo. Em seguida Narcisa senta por horas no chão do banheiro para vomitar as certezas que empurrou goela abaixo.


Para Flávio amar não é problema. Durante muito tempo ele teve dificuldade de dizer “eu te amo”, mas a TV, o cinema e a música abriram seus olhos... e sua boca. “É o que elas querem ouvir, e eu sou assim mesmo, intenso”, justifica-se. Está saindo com três pessoas diferentes e simultaneamente, amando-as igualmente.


Um comentário:

Anônimo disse...

detalhes interessantes