terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu reclamo, você reclama, nós reclamamos

Ultimamente eu tenho estado irritado. Mais do que irritado, ando puto da vida, indignado e reclamando de alguns comportamentos que não consigo entender no outro e, claro, em mim também.

Tem sido comum, muito constante mesmo, pessoas ao meu redor queixando-se (e muito!) de tudo e de todos. As mazelas vão das mais pertinentes às mais insignificantes. É como se houvesse um vácuo tamanho nelas (ou em nós?) que a mais densa matéria seria incapaz de preencher o vazio.

A vida se resume a demais e de menos. O trânsito é demais e as alternativas de menos. O ar condicionado é de menos para calor demais; o inverso também vale. O sexo demais para diálogo de menos. O diálogo demais para sexo de menos. Românticos de menos para sacanas demais. Lunáticos demais para terapeutas de menos. Soluções de menos e reclamações demais.

E eu, na minha piração de análise de botequim, tento contextualizar e compreender tanta insatisfação. De onde vem a falta de tanto e a satisfação de menos? E noto um padrão até contraditório (nada fundamentado, apenas empírico) nos “reclamações”: no geral são pessoas que não tiveram grandes privações na vida.

São aqueles que têm carro do ano, trafegam sozinhos pela cidade e reclamam do trânsito. Aqueles que jantam fora três vezes na semana e criticam o governo por ceder o Bolsa Família. Aqueles que ignoram a copeira da empresa e pregam o respeito como religião... só quando se aplica a eles.

Na falta de problemas reais, as chatices banais viram grandes aborrecimentos. Na falta de responsabilidade dos próprios atos, culpamos o outro, seja ele quem for. Em resumo, vivemos em tempos de “umbigocentrismo”.

Hoje, por exemplo, enquanto almoçava com algumas amigas para comemorar boas notícias e, claro, reclamar do tamanho do prato e do frio que fazia, vi passar um morador de rua que não fugia da chuva intensa e gelada.

Naquele instante, ele sim tinha bons motivos para se queixar da sua sub-vida, das privações e do poder de ser invísivel. Estava aparentemente sereno, talvez resignado com o fato de que estava ali para se molhar, literalmente. E eu? Eu estava seco, aquecido e comendo um belo pedaço de picanha...

Preciso dizer algo mais?

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