domingo, 29 de maio de 2011

Psiu aí, nós estamos gritando aqui.

Às vezes há tanto barulho aqui dentro que mal ouço aí fora.
São mil Miltons em pleno uso de suas cordas vocais.
Alguns falam, outros gritam; os mais apaixonantes sussurram.

Eu sou o único que se cala.

São mil tons de vozes em diferentes tempos de um mesmo tempo.


Sou eu na voz passiva, imperativa, ativa, rouca e quase afônica.
Cada uma com seu tom, seu timbre, seu desejo; todas em mim.
Meus mil tons barulhentos que fazem de mim um insano em silêncio.
Mil tons que dizem: Milton sem tom, sem voz, e muito louco.
Todos em uníssono.

Eu ligo o som, a TV, a internet. Ligo o desespero para calar as vozes.
Vozes, que vozes? – pergunta a voz hipócrita.

Mate todas, diz a mais imediatista.

Ao menos você tem cia. – a fofa (ou carente?) se manifesta.
Tudo isso é a manifestação de um Milton reprimido – analisa a mais insana.
E eu já não sei qual delas é a minha.

Às vezes é tanto silêncio aí fora que ensurdeço com o barulho aqui dentro.
Então, psiu aí! Nós estamos gritando aqui... dentro deste Milton calado.

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