sábado, 25 de outubro de 2008

O direito à vida. E o contrário?

Estou com este assunto remoendo em mim há tempos. De início não achei que aqui seria o lugar apropriado para expor este tema, tinha receio de ser mal interpretado. E aí um amigo me intimou a voltar escrever, visto que estava ausente daqui há mais de uma semana. Senti-me instigado e resolvi aceitar o desafio e escrevi o que você lerá a seguir.

Há alguns dias assisti ao filme "Fonte da Vida” que explora o antagonismo e a relação direta entre a morte e vida eterna. A reflexão veio, foi além da proposta inicial e se consolidou numa afirmação: temos sim o direito de viver assim como o de morrer.

Sim, estou me referindo ao suicídio e mais supercialmente à eutanásia. As palavras e o tema soam tão fortes e delicados para mim que hesito a todo instante diante deste texto. Talvez algumas perguntas ajudem esclarecer um pouco mais onde quero chegar.

Liberdade não é a ausência de submissão, a independência do ser humano para decidir o que fazer com sua vida? Se você tem direito de viver por que não ter o mesmo para morrer? Ao abrir mão do ponto de vista religioso, existe algum motivo objetivo e racional para reprovarmos o poder que um indivíduo tem de decidir até quando viver?

Não estou fazendo aqui uma apologia ao ato de dar cabo à própria vida e tão pouco estou pensando em fazê-lo com a minha. Até porque acho que o suicídio exige muita coragem e eu sou totalmente covarde para isso. O que eu quero mesmo é negar as respostas prontas e formatadas que sempre me deram sobre o assunto e permitir uma reflexão menos óbvia.

Acho que condenar o suicídio e a eutanásia tem muito mais razões econômicas do que necessariamente divinas. E como a trajetória de algumas religiões, principalmente as ocidentais, tem relação direta com o poder, incorporar este “pecado” tornou-se imperativo.

Vamos imaginar um regime de escravidão, por exemplo, sem a condenação do suicídio. Uma pessoa subjugada, sem perspectiva de melhora de suas condições de vida, provavelmente não temeria a morte auto infligida, o que resultaria em menos mão-de-obra, diminuição da produção e menos dinheiro para o explorador.

Trazendo este raciocínio para os dias de hoje, pense que viver significa é consumir – sem dinheiro não há a existência humana. Para comprar é preciso trabalhar, trocar a mão-de-obra e/ou conhecimento pelo poder de consumo. Quanto maior a demanda, mais trabalho é gerado que aumenta por sua vez o dinheiro circulante. Desta forma, a vida se torna cada mais indispensável para a sustentação deste modelo.

Aí tem a medicina que explica o suicídio com um distúrbio na produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, envolvidos na motivação e na tomada de decisões respectivamente. E neste momento eu lanço outra pergunta: não seria este distúrbio a conseqüência do dar-se conta que de fato podemos estar vivendo vidas sem sentido?

Apenas para deixar claro, toco neste assunto mais por questões pseudo-filosofais do que exatamente ideológicas. O meu propósito aqui é compartilhar contigo os meus questionamentos assim como as possíveis respostas que eles trazem.

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