quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um (Anti) Conto de Natal

Desliguei o celular por volta das 21h do último 24/12. Tinha acabado de avisar minha mãe que não passaria o ceia de Natal com a família pois estava a mais de 300 km de distância, na cidade de Bauru, e só conseguiria chegar para o almoço. Ela foi de uma compreensão espantosa.

Eu tinha viajado dias antes para curtir o inicío das férias e defini que voltaria a tempo de passar o feriado na casa dos meus pais. Mas um amigo pediu que eu o ajudasse a encarar o jantar natalino com alguns parentes não tão próximos e também dividir as contas de nossa volta para São Paulo.

Nunca tive apego às comemorações católicas (e o Natal é ainda uma festividade religiosa?) e acho que existem datas mais significativas para estar com a família. Então parecia indiferente o fato de estar ou não com eles naquele momento. Até porque estaríamos juntos algumas horas depois.

Mas nem tudo comigo é tão coerente assim. Afinal a comemoração e a ceia seriam as tradicionais. Diferente mesmo, só o local e a família. E qual era o meu papel nessa história? Boa pergunta! A resposta se revelou pra mim apenas no final.

No carro éramos três. No caminho, uma estranheza não reconhecida. Na chegada, boa acolhida. No local, rostos conhecidos e muitos outros nunca vistos. Na minha cara, um sorriso desconcertado. Nos olhos, lágrimas disfarçadas.

Enquanto ríamos e fazíamos piadas, tudo parecia leve e fácil. E as cervejas só facilitaram a situação. Felicito os presentes e penso na minha ausência. Então falo ao telefone com minha mãe e minha sobrinha. A emoção (para não dizer choro) pede espaço. Eu disfarço.

Em seguida, o celular toca. Número não identificado. Era uma ex-história usando de sentimentalismo para me fazer sentir especial. Mas é inevitável relevar aqueles gestos que me fizeram parecer um monte de merda meses atrás. Peço que pare; em troca a promessa da reconquista. Não consegui ser cínico.

Naquele instante me senti só. Não era apenas uma sensação, de fato já não tinha ninguém ao meu lado. Eu estava ali para fazer companhia e acabei na falta dela. Havia expirado a validade do meu propósito.
Todos estavam na sala principal da casa trocando presentes, gratidões e consolidando a imagem de Papai Noel no imaginário das crianças. Eu estava onde teria de estar: do lado de fora. Não fazia sentido ser outra coisa a não ser expectador.

Então lembrei do zelo exagerado da minha mãe, a sabedoria silenciosa do meu pai, o amor desastrado da minha irmã e o olhar meigo e perdido da Gigi. Por mais que eu queira ser independente e desapegado, é ao lado deles que meus defeitos, fragilidades e neuroses parecem desafios ao invés de fardos. Não é um amor de família por convenções sociais ou obrigações desse tipo, mas sim a conquista de pessoas extraordinárias que elas são.

Justamente por estar tão inserido no meu cotidiano, esse sentimento às vezes parece banal, rotineiro, imperceptível. E nas primeiras horas de 25/12 ganhei de presente a consciência do que estava fazendo e, horas mais tarde, naquele mesmo dia, disse e expressei com todas as letras a grande importância que essas quatro pessoas têm na minha vida e não deixei nenhuma sombra de dúvida do quanto eu as amo.

Um comentário:

Anônimo disse...

:-)