Ana saiu do cinema e, enquanto comia o resto da pipoca que sobrou no fundo do saco, consolou a si mesma:
- Comédia romântica é tudo que você precisa na sua vida amorosa. A realidade é complicada demais.
O açougueiro colocou o embrulho com os dois quilos de fraldinha de sobre o balcão e perguntou à Clarice se ela queria algo mais. A cliente pensou:
- Quinhentos gramas de paz mundial, por favor.
O hiato durou alguns segundos e ela respondeu:
- Meu marido está viajando. Não se atrase de novo, ouviu?
Maurício prestou atenção na moça sentada num dos bancos do aeroporto. Ela aparentava uns trinta e poucos anos, estava bem vestida e tinha uma beleza “quase convincente”. De cada 30 segundos que perdia lendo o livro que tinha em suas mãos, ela passava os outros dois minutos observando quem passava.
- Essa moça veio de longe para se encontrar com um cara que conheceu pela internet. Ela se deu conta de que ele era louco. Houve uma discussão entre os dois. Sem dúvida eles brigaram. Ele a largou no hotel. Ela ficou sozinha numa cidade desconhecida e está buscando amparo no primeiro estranho que lhe der atenção.
A garota sem identidade aproveitou o sinal vermelho para limpar o para-brisa do carro vermelho com a moça bonita no volante. Tudo em troca de algum trocado. A moça bonita fechou o vidro, fechou os olhos e acenou uma negativa.
- Se preocupa não moça, quando o sinal abrir eu vou fingir que sou uma você melhorada. – resmungou a garota sem identidade.
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quinta-feira, 11 de março de 2010
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Eles e o Amor
Janete só conheceu a palavra amor através dos namorados via internet que nunca conheceu pessoalmente. Todos eles disseram “eu te amo” e era o que bastava para ela tirar a roupa em frente a webcam. Nas semanas seguintes, seus amores virtuais alegavam excesso de trabalho, excesso de problemas. MSN e Skype offline em tempo integral. Já Carlos amava tudo de Julia e dizia para quem quisesse ouvir. Amava o jeito dela pentear os cabelos, o perfume, as roupas, as risadas que mais pareciam soluços, o cheiro do umbigo. Ele amava sua sensibilidade, suas limitações, seu apego excessivo pelo irmão mais novo, suas pernas mal depiladas. Carlos amava tudo de Julia. Mas ele nunca disse que a amava.
Pedro está pleno de amor. Ele é padre e encontrou na religião e nos seus seguidores tudo aquilo que normalmente procuramos no outro. Hoje, homem adulto que é, ele ama e serve a Cristo. Ontem, jovem garoto que era, ele amou e serviu a Jesus, seu primo mais velho.
Narcisa se basta. Tudo em sua vida gira em torno do amor próprio. Depois dela, só vêm os oitos gatos machos com quem divide o sobradinho da década de 1940 que herdou dos pais. Nas noites em que as crenças em si mesma estão abaladas, ela compra um pote de sorvete napolitano e pede uma pizza portuguesa, sua favorita. Devora tudo. Em seguida Narcisa senta por horas no chão do banheiro para vomitar as certezas que empurrou goela abaixo.
Para Flávio amar não é problema. Durante muito tempo ele teve dificuldade de dizer “eu te amo”, mas a TV, o cinema e a música abriram seus olhos... e sua boca. “É o que elas querem ouvir, e eu sou assim mesmo, intenso”, justifica-se. Está saindo com três pessoas diferentes e simultaneamente, amando-as igualmente.
sábado, 13 de junho de 2009
O Dia Seguinte
Érika acordou assustada. Eram cinco da manhã. A dor de cabeça era justificada pelas duas garrafas vazias de prosecco. Aquela textura do cobertor, aquele cheiro, aquele quarto. Nada ali era dela. Se deu conta de que estava nua quando viu suas roupas no chão. Ouviu um ruído e notou que havia um homem na cama. Era o seu melhor amigo a quem pediu abrigo na noite anterior para não passar sozinha o Dia dos Namorados.Paulo acordou lentamente. Nada ali era dele; era um quarto de hotel. Os pêlos arrepiados traduziam a manhã fria e o corpo descoberto. Ao seu lado estava Amanda, namorada há cinco e noiva há um. A dor de cabeça repentina o lembrou que está ensaiando há meses um jeito de dizer à Amanda que tudo acabou.
Sueli foi despertada pelo cheiro de café fresco. Aquilo não era comum em suas manhãs, mas soava agradável. Levantou-se e viu sua mesa repleta de guloseimas matinais e um bilhete que dizia: “Su, obrigado pelas noites de sonhos acordada. Nos vemos mais tarde. Beijos, Lúcia”.
Rui abriu os olhos e ouviu o barulho do mar. Lembrou que não estava em São Paulo. O Guarujá parecia o lugar ideal para fugir das mentiras e das promessas vazias que tinha ouvido dias antes.
Tati sentiu uma mão quente e grande percorrendo seu corpo. Precisou de alguns segundos para se dar conta do que acontecia; ela trouxe para casa um cara que tinha conhecido na noite anterior e, pelo visto, ele queria mostrar um pouco mais dos efeitos afrodisíacos do ecstasy. Ela pensou: “Merda, vou ter de dar um fora nele depois de gozar. Odeio quando eu banco a ‘fofa’ e trago alguém pra dormir comigo”.
Décio já estava de pé às seis da manhã, como sempre faz. Acendeu seu cigarro, escovou os dentes e tomou seu remédio para a pressão alta. Voltou para cama e viu Amália num sono profundo e lembrou-se de quando a viu pela primeira vez; sem rugas, sem cabelos brancos, sem experiência. “É velha, mais de 50 anos se passaram e as pequenas coisas de nosso cotidiano ainda fazem de você a mulher da minha vida”, cochichou.
domingo, 8 de março de 2009
Cenas curtas
Cenas curtas de ficção baseadas em fatos irreais:
Lucas está com Léo há anos. Ele sente-se humilhado pelo namorado e busca fuga em Mário, com quem tem um caso esporádico. Lucas não consegue largar seu relacionamento, principalmente agora que Léo está sofrendo de uma doença grave.
Eu sou intensa. Bebo, fumo, leio, escrevo, consumo, produzo e me drogo socialmente. Mas nunca me dê espelhos – é o lema secreto de Marisa.
Solange toda noite tem um dilema: reza pela recuperação ou pela morte de seu pai? Ele sofre de Alzheimer.
Quando Celso se deu conta que o sexo casual era solução para seu coração partido, redescobriu a paixão num flerte despretencioso em pleno horário do almoço.
Mário não acredita em Deus, no amor e não come carne vermelha. Mas ainda crê que Lucas abrirá mão do relacionamento para ficar com ele.
Sônia sabe que dor e prazer parecem extremos, mas adora brincar com antíteses. Por isso sente-se inteira quando faz sexo anal com seu marido.
O casamento morno de Flávio resultou no caso com Solange, sua colega de trabalho. O corpo da moça não é “lá essas coisas”; o que o excita mesmo é o fato de se sentir desejado.
A mãe de Celso pediu sua ajuda para saber se está sendo traída pelo marido. Ela tem essa dúvida há mais de 20 anos. Celso não sabe que está errado ao achar o pai inocente e por ignorar que a mãe não está pronta para a verdade.
Minha mãe não é nada bonita, mas adoro quando ela usa aquela flor no cabelo, pensa a filha adolescente de Marisa quando vê sua mãe pronta para sair com os amigos.
O marido de Sônia adora fuder o cu da esposa. Mas nutre um ódio profundo por ela: Sônia só prepara comida de micro-ondas e torce pelo Palmeiras.
O narrador olha para os personagens, olha para si e sentencia: eu sou normal.
Lucas está com Léo há anos. Ele sente-se humilhado pelo namorado e busca fuga em Mário, com quem tem um caso esporádico. Lucas não consegue largar seu relacionamento, principalmente agora que Léo está sofrendo de uma doença grave.
Eu sou intensa. Bebo, fumo, leio, escrevo, consumo, produzo e me drogo socialmente. Mas nunca me dê espelhos – é o lema secreto de Marisa.
Solange toda noite tem um dilema: reza pela recuperação ou pela morte de seu pai? Ele sofre de Alzheimer.
Quando Celso se deu conta que o sexo casual era solução para seu coração partido, redescobriu a paixão num flerte despretencioso em pleno horário do almoço.
Mário não acredita em Deus, no amor e não come carne vermelha. Mas ainda crê que Lucas abrirá mão do relacionamento para ficar com ele.
Sônia sabe que dor e prazer parecem extremos, mas adora brincar com antíteses. Por isso sente-se inteira quando faz sexo anal com seu marido.
O casamento morno de Flávio resultou no caso com Solange, sua colega de trabalho. O corpo da moça não é “lá essas coisas”; o que o excita mesmo é o fato de se sentir desejado.
A mãe de Celso pediu sua ajuda para saber se está sendo traída pelo marido. Ela tem essa dúvida há mais de 20 anos. Celso não sabe que está errado ao achar o pai inocente e por ignorar que a mãe não está pronta para a verdade.
Minha mãe não é nada bonita, mas adoro quando ela usa aquela flor no cabelo, pensa a filha adolescente de Marisa quando vê sua mãe pronta para sair com os amigos.
O marido de Sônia adora fuder o cu da esposa. Mas nutre um ódio profundo por ela: Sônia só prepara comida de micro-ondas e torce pelo Palmeiras.
O narrador olha para os personagens, olha para si e sentencia: eu sou normal.
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